Os 4 Pontos Fundamentais - Parte 1

Olá a todos! Conforme eu havia dito anteriormente abordarei nesse post os 4 pontos fundamentais para um jogador deixar de ser totalmente leigo no poker e começar seu caminho de aprendizado. Serão 3 ou 4 posts que abordarão todo esse assunto que eu considero vital para quem está começando. Esses 4 pontos podem ser definidos como: escolha de mão (hand selection), posição, agressividade e GAP. Conhecer e aplicar esses 4 conceitos é essencial para qualquer um que está começando a jogar. Se depois, com mais experiência, quiser-se variar a aplicação dos mesmos visando camuflar o estilo de jogo, tudo bem. Entretanto, para todos aqueles que estão começando o meu conselho é: tente ao máximo segui-los! Assim, vamos à primeira parte!

1- Escolha de mão ou hand selection
É comum vermos vários principiantes jogando com uma gama bastante vasta de mãos iniciais e culpando a sorte por não ganhar ou não conseguir jogadas vitoriosas. Entretanto, eu lhes digo: esse é o PIOR erro que um principiante pode cometer! A grande maioria das mãos iniciais não tem poder de recuperar o dinheiro investido com o pagamento dos blinds e apostas sendo que portanto, a longo prazo, jogar com essas mãos só lhes trarão prejuízo. Aí vocês me perguntam: "Mas Daniel, como é que você sabe que uma determinada mão dará prejuízo sendo que você nem ao menos viu o flop?" Acontece que qualquer mão inicial, teoricamente, pode se transformar numa jogada monstro em função das cartas da mesa. Porém, certas cartas simplesmente não acertarão jogadas como essas suficientemente para torná-las lucrativas. Vamos a um exemplo: digamos que a mão 52o (ou seja, 52 offsuited, de naipes diferentes) ganhe 10% das vezes contra 5 oponentes com mãos aleatórias. Digamos também que você invista $10 até o showdown (que é quando os jogadores participantes mostram suas mãos e quem tem o maior jogo ganha) e que, para efeito de exemplo, todos os 5 adversários também façam o mesmo. Assim, teremos um pote de $50 que você, a longo prazo, ganhará 10%, portanto ganhará $5 (em 10 vezes você ganha 1 e perde 9; quando ganha leva $50, mas tem que pagar $5 nas outras 9 em que perde e assim gasta $45; dessa maneira você tem um rendimento de $50 - $45 = $5). Perceberam a armadilha? Você está gastando $10 para conseguir um retorno de $5, ou seja, você terá um rendimento de -$5 a longo prazo. Como chama isso? PREJUÍZO! Esse efeito é conhecido como dead money (eu pretendo falar especificamente sobre dead money em um post futuro).

Esse falatório todo serviu para quê? Serviu para mostrar a vocês, de forma prática, que jogar qualquer mão inicial trará prejuízo a longo prazo, mesmo que esse seu 52o uma hora vire um full ou uma quadra vitoriosa. E mais: a grande maioria das mãos possuem essa mesma característica negativa! Sendo assim, vamos a alguns passos para se escolher as mãos certas.

1.1- Nem todo par é bom!
Uma coisa que eu quero deixar bem clara aqui pra vocês é que basicamente a maior parte dos pares só será vitoriosa caso atinja-se um set (trinca composta de 1 par na mão + 1 carta da mesa). Para vocês terem uma idéia, a chance disso acontecer no flop é de 11,8% (de conseguir um set ou algo melhor). Assim, como na maioria das vezes (aproximadamente 9 para 1 contra, ou seja, em 10 vezes você perde 9 e ganha 1) o par não virará trinca, quando virar você deverá ganhar muito bem para torná-lo lucrativo. Acontece que se, por exemplo, você conseguir sua trinca no turn ou no river você provavelmente não terá tempo suficiente para tirar muitas apostas mais do seu oponente antes da jogada acabar (no showdown) e asssim tornar essa jogada lucrativa. Por isso, na maioria das vezes não compensará tentar ver todas as cartas por vir com esse tipo de jogo na esperança de melhorar a jogada e levar o pote.

É claro que isso não é tão válido para os pares MUITO fortes, que podem vencer apenas por sua própria força, sem terem sempre que melhorar para jogadas maiores. Com esse tipo de jogo nas mãos pode-se (na verdade deve-se) ser agressivo. Ainda assim é preciso tomar cuidado com esses pares altos pois, mesmo sendo pares bons, não deixam de ser jogadas pequenas, ou seja, são a segunda jogada numa hierarquia de baixo para cima (só ganhando de jogos onde não se conseguiu atingir nenhuma jogada). Caso a mesa apresente cartas maiores ou várias possibilidades de jogadas fortes o par de mão perde muito sua força e deixa de ser realmente lucrativo.

Na prática: AA e KK são pares monstros e devem ser jogados com bastante agressividade (essas mãos ganham MUITAS vezes, mesmo sem tornarem-se sets); QQ, JJ e TT(10 10) são pares grandes e devem ser jogados com agressividade também, porém com atenção às cartas que caírem na mesa para não perderem contra algum jogador que pareie uma carta maior com a mesa (ou consiga uma jogada melhor); 99, 88 e 77 são considerados pares médios e apenas irão ganhar sem se tornarem sets (ou melhor) caso poucos jogadores fracos estiverem no pote e, mesmo assim, só se a mesa contribuir; com vários jogadores e/ou jogadores fortes é necessário acertar uma jogada melhor para ganhar a longo prazo; por fim temos 66, 55, 44, 33 e 22 que são considerados pares pequenos e esses, mais do que os outros, só merecem agressividade ao se tornarem jogadas como set ou melhor; do contrário simplesmente jogue-os fora; caso a mesa apresente constante agressividade pré-flop, evite jogar com essas mãos já que o investimento não trará retorno a longo prazo.

Resumindo: com pares monstros e altos deve-se jogar com agressividade, com pares médios deve-se ficar atento ao número de jogadores à mesa e à qualidade dos mesmos, e com pares pequenos só deve-se investir $ no pré-flop caso haja vários jogadores no pote e, principalmente, se aposta não for muito aumentada. Quando tiverem pares pequenos fiquem atentos ao nível de agressividade da mesa no pré-flop. Quanto mais agressiva for a mesa antes do flop menor deve ser a tendência em jogar esses pares. Ah, mais uma coisa: caso não consigam a tão esperada trinca (ou melhor) no flop e alguém venha apostando forte, joguem esse par fora imediatamente. Confiem em mim: ele já não valerá muito!

1.2- Ser do mesmo naipe é importante!
Há uma regra bastante interessante quanto ao valor das mãos que diz o seguinte: se em um determinado instante você estiver em dúvida quanto a jogar ou não com uma mão no pré-flop esteja mais inclinado a jogar caso essa mão seja do mesmo naipe e a descartá-la caso não seja. As vantagens de ser do mesmo naipe são várias mas se eu for esmiuçá-las agora talvez esse post fique ainda maior do que já está ficando. O que eu posso garantir a vocês é que se uma mão for do mesmo naipe ela terá mais chances de sair de uma situação delicada onde mãos de naipes diferentes teriam um fim triste e doloroso. Além disso, mãos do mesmo naipe podem se transformar em jogadas poderosas e escondidas que lhes trarão um lucro formidável. Tendam a jogar mais com mãos de naipes iguais, certo?

Mas faço uma ressalva que também é bastante importante: ser APENAS do mesmo naipe não faz da mão jogável. 72o ou 72s (ou seja, 72 de naipes diferentes ou 72 de naipes iguais) são duas mãos horríveis e nunca devem ser jogadas (a não ser que se tenha um motivo MUITO bom pra isso), da mesma forma acontece com várias outras. Aqui faço uma observação importante: se uma determinada mão não deve ser jogada nem mesmo se ela for do mesmo naipe, imaginem se não for. Ser do mesmo naipe é um complemento importante, mas não deixa de ser um complemento.

1.3- Mãos offsuit (que não sejam Broadway hands): Ax, Kx, Qx, Jx e Tx
Essas são as malditas. Muitos iniciantes simplesmente AMAM ter uma carta alta na mão e já acham que em função disso têm uma jogada forte. GRANDE ERRO! Mãos como A5o, K8o, Q9o, T8o, J7o são simplesmente dinheiro sendo queimado! Não canso de ver jogadores já com um mínimo de bagagem cometendo erro após erro ao jogarem com esse tipo de mão. Como eu disse no item 1.2, cartas de naipes diferentes são bem mais fracas que cartas do mesmo naipe. Sendo assim, mãos como essas citadas, que já são fracas em função da força individual de cada carta, tornam-se péssimas por serem offsuit.

Vou ser bem direto com vocês: na grande maioria das vezes as únicas mãos offsuit que valerão a pena jogar são AKo, AQo, AJo, KQo e abro uma execeção, em casos bem específicos e especiais (como passividade muito grande dos adversários), para ATo e KJo. Fora essas, só se você tiver certeza do que está fazendo e se tiver vários outros motivos que justifiquem jogar com cartas offsuit mais fracas. Fica explícito aqui, portanto, que mãos como A9o (ou pior) e K9o (ou pior) são jogadas MUITO ruins! Desmistifiquem esse conceito de que se tem A ou K já está bom porque isso é uma TREMENDA mentira!

1.4- Conectores suited (do mesmo naipe)
Por conectores eu quero dizer cartas que juntas podem fazer straights: T9, 56, J8, 84 etc. Já que existem muitas mãos que podem ser classificadas como conectores, vamos estabelecer que os conectores que mais valem a pena jogar são aqueles que não tem espaço entre si, como T9, QJ, 65, 87 e, caso a mesa esteja bastante propícia, os que têm apenas 1 espaço entre si, como T8, Q9, 64, 85. Os demais conectores requerem muita leitura de mesa e por hora desaconselho vocês a jogarem com eles.

Os conectores devem ser suited, ou seja, do mesmo naipe! É um erro enorme achar que só porque 2 cartas podem virar straight elas já são fortes! Muita gente perde MUITA grana comentendo esse erro e espero que vocês não o cometam. Além disso, existem outros pontos críticos a serem observados quando se joga com conectores. Assim como os pares médios e pequenos, os conectores também são mãos especulativas, ou seja, precisam de situações propícias para serem lucrativos. Quanto mais jogadores no pote melhor, mas quanto maiores forem as apostas antes de vocês completarem suas jogadas pior será. A condição ideal é que vocês tenham várias jogadores presentes no pote e que possam pagar pouco até completar a grande jogada: a partir daí vocês podem cobrar caro dos seus adversários, mesmo porque jogadas como as feitas com conectores costumam ter um alto grau de implied odds (ou seja, grau de retorno de investimento em função de serem jogadas mascaradas, difíceis de serem percebidas). Novamente digo: frente a uma aposta grande e sem terem completado a jogada não se acanhem de dar fold (a não ser que se tenha MUITOS motivos para fazer o contrário, coisa que na maioria das vezes não acontecerá).

1.5- Ax e Kx do mesmo naipe (ou suited Aces e suited Kings)
Antes de mais nada: o primeiro grupo, composto pelo A e outra carta do mesmo naipe, é muitas vezes superior ao segundo grupo, de K com outra carta do mesmo naipe. Entretanto, esse tipo de mão (Ax), quando não fizer parte das Broadway hands(as Broadway hands de A são: AKs, AQs, AJs e ATs; veja logo abaixo), será apenas especulativo e dessa forma seguirá as mesmas regras dos conectores (quanto à necessidade de atingir a jogada para ser forte, precisar de vários jogadores no pote e não serem boas mãos após um aumento). Os Kx seguem a mesma regra mas possuem uma força bem menor. Com isso, deve-se jogá-los com cautela redobrada e nunca, NUNCA chamar um aumento com esse tipo de mão sem um excelente motivo. Lembrar que bater um top pair com uma mão dessas (tanto Ax como Kx) não é muito vantajoso caso o kicker seja fraco. Portanto numa situação dessas deve-se tomar muito cuidado.

1.6- As grandes mãos
Vocês já devem estar falando: "Caramba, Daniel! Então não se pode jogar com carta nenhuma?!". Hehehe Calma, moçada, não é bem assim! Existem as mãos poderosas, as que têm um mínimo de lucro garantido e que compensam o dinheiro investido. Na verdade eu já citei algumas delas. Antes de recapitulá-las vou acrescentar algumas outras, bastante importantes:

Todas as Suited Broadway hands (mãos Broadway do mesmo naipe) possuem uma força considerável. Uma carta Broadway é aquela sendo T ou maior (dessa forma: A, K, Q, J ou T). Assim, esse tipo de mão é composto por duas cartas T ou maior sendo ambas do mesmo naipe. As mais fortes são: AKs, AQs, AJs, ATs, KQs e KJs, conhecidas como Big Suited Broadway. As demais são QJs, KTs, JTs, QTs, conhecidas como Little Suited Broadway. Quando eu explicar sobre posição e GAP vocês entederão melhor como jogá-las, já que algumas não devem ser jogadas de posições iniciais ou depois que alguém aumentou a aposta. Por hora saibam que o primeiro grupo, as Big S. Broadway, são bastante fortes e mais, que as 2 primeiras mãos desse grupo merecem destaque especial. Também saibam que se ninguém aumentou a aposta (e se há pouca chance de alguem fazê-lo) compensa chamar no pré-flop com qualquer uma dessas Suited Broadway, de qualquer posição.

Bom, recapitulando: as mãos rentáveis são as Suited Broadway citadas, os pares monstros e altos, as melhores offsuit (AKo, AQo, principalmente, mas também AJo e KQo). Em situações bastante corretas os pares médios e pequenos, os Ax e Kx do mesmo naipe e os conectores do mesmo naipe. O resto é LIXO! Não desperdicem o seu rico e suado dinheirinho tentando achar uma mesa maravilhosa que transforme porcaria em jogada forte! Invistam no que é certo e terão uma melhora considerável!

Conclusão da parte 1:
Se vocês seguirem meu conselho estarão jogando aproximadamente entre 15% a 20% das mãos iniciais que receberem. Mais do que isso e já poderão estar bastante propícios a serem contribuintes de dead money aos potes em que participarem. É claro que cada jogo é um jogo, mas na grande maioria das vezes esses valores serão verdadeiros. Tenham disciplina ao escolher quais mãos jogar. Parafraseando Sklansky eu lhes digo: pode ser menos excitante jogar com poucas mãos iniciais, mas com certeza será muito MUITO mais divertido ganhar e perceber, depois de um tempo, que há lucro ao invés de prejuízo.

Espero que não tenha sido muito extenso esse primeiro material (hahaha) mas é que esse assunto tem uma importância gigantesca dentro do jogo de Hold´em. Ao segui-lo vocês estarão dando um passo importante à frente da maioria de seus adversários! Quaisquer dúvidas que tiverem por favor não deixem de me escrever! Críticas e sugestões são sempre muito bem recebidas! Ah, o próximo material vai ser muito importante também, portanto não o percam!

Um grande abraço a todos!